segunda-feira, 4 de maio de 2009

Troféu APSIA F3B 2009


Esta competição fez a estreia do campo de Almargem do Bispo, a poucos kilómetros de Sintra e da Ericeira, em provas de competição de planadores. O campo demonstrou qualidades, um defeito ou outro (principalmente não ser tão grande como gostaríamos…) mas provou-se que é uma alternativa ao campo do Pinhal Novo de que gostamos muito mas que fica fora de mão para a maioria dos praticantes.

O mentor, organizador, piloto, ajudante, estratega, psicólogo, juiz, etc etc foi o Prof. Jorge Infante, porque foi à volta dele que toda a prova decorreu e o seu sucesso tem que lhe ser endereçado. Apesar de algumas pausas, e interrupções, foi uma prova que decorreu muito bem e em que todos os que lá estiveram se divertiram e aprenderam uns com os outros mais um pouco de F3B.

Pessoalmente, eu vinha de uma semana muito difícil na minha vida. Disfarcei o melhor que pude aquilo por que tenho vindo a passar no campo familiar, e a prova serviu para me distrair e estar com amigos. Foi um autêntico descanso, depois de uma prova de fogo. Uma prenda depois de um sacrifício.

Mas adiante.

Equipa:
Fiz equipa com o Gherard Koberlein e o João Faria. No geral funcionou tudo Ok, menos um ou outro promenor que devemos resolver no futuro. A experiencia de mais de 30 anos do Koberlein em provas de F3B foi fundamental nos resultados que eu e o Faria íamos conseguindo e transmitiu a noção de que há regras que tornam as pessoas competitivas: dar tudo por tudo é arriscar, e arriscar só vale a pena se não há outra alternativa como por exemplo uma situação em que estás em 2º ou 3º lugar e só arriscando consegues o primeiro lugar. Portanto, o Koberleine dizia-me durante a prova “fly clean”querendo dizer que eu devia evitar situações de risco ou perda de controlo do modelo. E neste considerando, vale a pena pensar que acabei a prova à frente de gente que voa melhor que eu, mas que arriscou, e arriscou cedo de mais.

Distancia:
O F3B é uma prova de equipa, e sente-se essa componente principalmente na tarefa da distância em que a comunicação entre membros da mesma equipe é fundamental. Eu limitei-me a obedecer às ordens do Koberlein: “more outside, more outside”, “ready…. Turn!”, “more speed” etc etc… Em permanência: “go away, run the fastest you can” “more, more away, to the brown field”. No Speed “ready, Turn!”
Portanto, cumprindo as indicações firmes e exactas do Alemão, fiz o meu record pessoal de distancia: 21 percusos o que me valeu um elogio do próprio “You fly good, and you listen well”.

Permanência:
No geral, e comparando com a estratégia do Koberlein, reparei que estamos pouco habituados a ter a iniciativa de explorar o campo à procura de bom ar. Segundo ele, se estás em mau ar, é porque o bom ar está noutro local do campo; parece uma evidência, mas a nossa falta de objectividade natural deixa-nos muitas vezes à espera que o ar melhore, e não abandonamos a área em que temos o modelo. Como ele diz “it makes no sense to stay in bad air!”

Speed
Só fiz porcaria nesta tarefa. Saí-me pior do que alguma vez imaginei. Pior que em Coimbra há um ano atrás… portanto decidi que é nesta tarefa que devo concentrar as atenções quando for treinar F3B.
Quanto ao Koberlein, ele fez o seu record pessoal na tarefa, com 14’ e picos (não me lembro) comigo a lançar-lhe o modelo e a gerir a força no cabo com o pedal J. Eh! eh! eh!
Já tinha visto na Alemanha que os melhores tempos são feitos com movimentos suaves na curva, preparada com grande antecedência e essa é também a estratégia deste alemão. Guardam toda a energia para a gastar na velocidade durante o percurso, e a posição inclinada do modelo não retira nada ao cronómetro dada a velocidade elevada a que o modelo se desloca.

Cabos:
O vento lateral e a sua força exigiram que a dimensão dos cabos fossem no mínimo de 1.3, abaixo disso e era o disparate (os espanhóis levaram algum tempo a mudar as suas linhas para cabo mais grosso...) e o ideal era o 1.4.
Por outro lado, o cabo deverá aguentar o dia todo: depois de 5 saídas puxadas, debaixo de sol, a arrastar na vegetação rasteira, o cabo já não está “novo”.

Modelos:
Quanto a material: o que já sabíamos. Os nossos modelos não são competitivos numa prova como as da Alemanha. Só o Zé Costa tem um modelo de top, igual ao usado pelo Koberlein (Radical). O problema é que sabendo isto, não podemos fazer nada: o Radical é caríssimo e tem uma espera de meses. Os outros modelos competitivos (Target, Shooter, Tanga, Tool) são igualmente caríssimos para os nossos bolsos.
De qualquer forma, para o nosso nível, os modelos que usamos são adequados: (eu com Caracho, o Faria com Victor, o Figueiredo com Evolution, o Pedro com Furio, o Américo com Crossfire). Como confirmação desta ideia é interessante notar que o Peter Hubert, que concebeu o Caracho, voa actualmente um Radical.

A prova de F3B é complexa e o investimento e logística do material afastam muita gente deste tipo de prova. No entanto é essa dificuldade que lhe dá uma graça especial: aprender a lançar os modelos, escolher o camber e posição do gancho, escolher a dimensão do cabo, lançar com vento lateral, escolher a quantidade de lastro, decidir dentro do tempo de trabalho, trabalhar em equipa, andar kilómetros para trazer o pára-quedas, trabalhar com os guinchos, fazer nós em fios de nylon, ter fases de voo para cada tarefa, etc etc etc.

Não é para todos. E como se diz a brincar: “se fosse simples, chamava-se futebol….”

O pódium foi para o Gherard Koberline, Andoni, e Otero.

No quarto lugar fiquei eu. Admiradíssimo e sem perceber muito bem como, já que só fiz M*** no speed.

A minha equipa também ganhou o 1º prémio por equipas. Só fiquei com pena que o João Faria tivesse de ter ido embora mais cedo com problemas de saúde, porque gostaria de ter uma fotografia dos três a segurar o troféu.

E a última palavra é de agradecimento aos cronometristas e todos aqueles que ajudaram. Bem ajam. Espero que de alguma forma a prova também tenha sido interessante para eles.